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Amando e resgatando a pessoa desgarrada – Por Tiago Rosas


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A Lição de hoje baseia-se nas duas primeiras parábolas de Jesus registradas no capítulo 15 de Lucas. Certamente poderíamos falar das três parábolas desse capítulo, incluindo a conhecida parábola do filho pródigo, já que as todas elas falam de um mesmo assunto: a compaixão de Deus pelos pecadores perdidos e a alegria pelos que se salvam.

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Esta é uma lição para refletirmos o incomensurável amor de Deus por todos os pecadores, sem exceção, e também sobre a nossa responsabilidade missionária, já que é através de nós que Deus está fazendo um apelo ao mundo para que se reconcilie com Cristo (2 Co 5.20). Meditemos e aprendamos uma pouco mais!

I. Interpretando as parábolas da ovelha e da dracma perdidas

Os dois primeiros versículos de Lucas 15 deixam claro as razões de Jesus ter contado estas parábolas e nos ajudam a interpretar o significado delas. Vejamos:

“Todos os publicanos e pecadores estavam se reunindo para ouvi-lo. Mas os fariseus e os mestres da lei o criticavam: ‘Este homem recebe pecadores e come com eles’” (Lc 15.1-2)

A partir do terceiro versículo, então, Jesus passa a falar através de parábolas sobre o grande amor de Deus pelos pecadores e Sua incansável busca pelos perdidos, além de contrastar também o festejo celestial pelos que iam sendo resgatados com o ressentimento dos religiosos que se julgavam melhores que os pecadores.

Como a ênfase destas parábolas recai sobre a compaixão de Deus pelos perdidos e a alegria de se resgatá-los, estou de acordo com Kunz [1], segundo quem estas parábolas seriam mais apropriadamente intituladas de “o bom pastor” (ao invés de a ovelha perdida), “a mulher diligente” (ao invés de a dracma perdida) e ainda “o pai amoroso” (ao invés de o filho pródigo, que é uma terceira importante parábola deste capítulo, que se soma as duas parábolas anteriores para enfatizar a compaixão de Deus pelos perdidos).

  1. A parábola do bom pastor

Quem nunca ouviu o belíssimo hino das Cem ovelhas, que já virou um clássico da hinódia evangélica internacional? Da autoria do compositor mexicano Juan Romero, intitulada originalmente de Visión pastoral (perceba que o compositor captou bem a ênfase da parábola, que recai sobre o pastor, não sobre as ovelhas propriamente), esta música foi popularizada na versão portuguesa nas vozes de Feliciano Amaral e, talvez mais especialmente, Ozeias de Paula. É um belíssimo hino baseado nesta parábola de Jesus, e que exalta o terno amor de Deus por cada um dos pecadores perdidos que vagueiam longe do bom Pastor.

Compreendamos a parábola em seus pontos mais destacados:

1.1. Cem ovelhas, uma se perde

O número cem não é exagerado para o pastoreio na época de Jesus, mas o contraste entre as noventa e nove ovelhas que ficam “no campo” (v. 4, NVI) e a única que se perdeu, mas que foi buscada diligentemente pelo pastor, atende ao propósito de Jesus de nos mostrar como Deus se importa com cada pecador, “não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a se arrepender” (2Pe 3.9).

O contraste não é para dizer que apenas poucos se perderam, pois na verdade “todos pecaram” (Rm 3.23), mas para realçar o amor de Deus por “cada um de vocês” (At 3.26, NVI). O pastor não amava apenas as ovelhas no sentido coletivo, mas também no sentido individual. Assim também Deus ama o mundo (Jo 3.16), no sentido geral – a todos –, mas também ama a cada um pecador individualmente e a todos eles almeja salvar! Como bem disse o teólogo holandês Jacó Armínio, “Cristo morreu por todos, sem nenhuma distinção entre eleitos e reprovados” .[2]

1.2. Vai atrás da ovelha perdida, até encontra-la

Os fariseus e mestres da lei queixavam-se de Jesus estar junto dos pecadores (v. 2), mas considerando que todos os homens são pecadores aos olhos de Deus, a única possibilidade de Jesus não se juntar aos pecadores seria ele nem ter vindo a esta terra! Se não devia entrar na casa de pecadores, na casa de quem ele entraria?!

Se surpreendia aos religiosos descrentes que Jesus se juntasse a até comesse com pecadores (de fato, a acusação deles era procedente), então que será que eles pensariam quando Jesus dissesse que daria a própria vida em favor dos pecadores? (Jo 6.51; 10.11). A graça de Deus é realmente escandalosa!

Como no Éden, enquanto chamava por Adão que após pecar se escondia de Deus atrás das árvores (Gn 3.8,9), o Senhor continua hoje a procurar e a chamar todos os perdidos para virem a ele. Os religiosos incrédulos não entendiam, mas nós entendemos: Jesus não se suja com o pecado dos pecadores, antes o pecador é que é santificado pela santidade de Cristo! Por esta razão, o pastor não se incomoda de colocar a ovelha que foi achada “alegremente nos ombros” (v. 5). Sozinhos não poderíamos, fracos e debilitados pelo pecado, voltar “para casa” (v. 6), mas o pastor amável nos carrega sobre os ombros! Que mui bela imagem é esta!

Pastor de ovelhas
Pastor de ovelhas
  1. A parábola da mulher diligente

Enquanto a ovelha se perdeu distante do rebanho e longe das vistas do pastor, esta parábola fala de uma mulher que perdeu uma moeda dentro de sua própria casa. Entretanto, apesar do valor relativamente pequeno da moeda (a dracma equivalia ao pagamento pelo trabalho braçal de um dia), a dona da casa não descansou até encontra-la; como diz a Escritura: “…acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar?” (v. 8)

Compreendamos esta parábola:

2.1. Dez dracmas, uma se perde

Novamente, como na parábola do bom pastor, há um contraste para ressaltar o valor que a unidade tem aos olhos de Deus. Não foram as dez dracmas, nem cinco ou três que se perderam, mas uma. Apenas uma! Entretanto, para esta única moeda a dona de casa devota toda sua atenção e busca-a diligentemente porque muito a deseja.

Já deixamos claro que todos os homens se perderam no pecado. Em Adão, todos nós pecamos. “Não há um justo sequer” (Sl 14.3; 53.3; Rm 3.10). Entretanto, Deus amorosamente busca cada um dos pecadores de volta pra si, mesmo aqueles de pouco valor aos olhos humanos (os “publicanos e pecadores” do vers. 2 estão muito bem representados nesta “dracma” perdida).

Estas parábolas de Jesus depõem contra aqueles que acham que há perdidos tão perdidos que Deus não se importe com eles, que Deus não queira salvá-los, que Deus já os tenha predestinado incondicionalmente desde a madre para a condenação eterna. Cada um dos perdidos é alvo do mais terno amor de Deus e de seu sincero desejo de salvá-los! Como dito pelo apóstolo Paulo, “…Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1Tm 2.3b,4).

2.2. A mulher que busca diligentemente

O comentarista William MacDonald sugere que “a mulher nessa história pode representar o Espírito Santo, procurando o perdido com a candeia da palavra de Deus” [3]. Este mesmo autor já havia interpretado Jesus na figura do bom pastor que busca a ovelha perdida [p. 204] e entende que o pai da parábola seguinte seja uma representação de Deus, o Pai. [p. 205]

Orlando Boyer, autor pentecostal, também vê a Trindade representada nestas três parábolas lucanas:

“Na primeira parábola encontra-se o amor do Filho em procurar o perdido; na terceira, o amor do Pai em encontrar o perdido; e nesta, a segunda, o amor do Espírito Santo em buscar o perdido” [4]

Como é bastante sugestiva essa interpretação, e não vejo nada que deponha contra ela, creio que é possível sim vermos a Trindade envolvida no maravilhoso plano de salvação dos pecadores (como bem nos ensinam nossos manuais de Soteriologia), e aqui refletida indiretamente nas parábolas contadas por Jesus. Apenas ressalte-se que isso de modo algum implica dizer que o Espírito Santo seja literalmente uma figura feminina! Longe de nós tal imaginação! Estamos trabalhando apenas com representações, figuras, ilustrações do cotidiano que de alguma forma fazem-nos entender melhor o amor de Deus e sua relação com os pecadores.

Como no interior da casa, assim também no interior de nosso coração o Espírito de Deus busca, lançando as luzes da palavra de Deus e do santo Evangelho (Sl 119.105), nos convencer de nosso estado de perdição (Jo 16.8) e levar-nos à justiça de Deus! Ele “varre” (Lc 15.8) a sujeira que obstrui nossa visão, remove as impurezas do coração e nos ajuda a enxergar quem de fato é Jesus, quem de fato nós somos e como necessitamos da redenção providenciada por Deus. O Espírito Santo é Deus produzindo salvação em nós!

II. Precisamos buscar quem se desgarrou

Estas parábolas de Jesus podem ser aplicadas tanto ao contexto de evangelização dos não-crentes quanto dos que se desviaram do Evangelho. Aos descrentes, Deus está interessado em dar-lhes a primeira chance de salvação; aos desviados, Deus está desejoso de dar-lhes outra chance de salvação. Entretanto, embora Deus possa revelar-se diretamente ao coração de cada pessoa e trazê-la à fé em Jesus Cristo, Ele espera que nós, Igreja do Senhor, cumpramos essa missão que outrora nos foi entregue e para a qual fomos capacitados pelo poder do Espírito.

  • Não sejamos egoístas na salvação

Sobre a atitude ressentida dos religiosos descrentes nos dias de Jesus, Kunz destaca que “os escribas e fariseus e outros mestres, ao invés de criticarem o Mestre, deveriam usar sua inteligência em buscar os pecadores perdidos e trazê-los a Deus com grande regozijo. Mas isto eles não faziam, por causa da sua pretensa santidade”. [5]

Muitas vezes nos colocamos também dentro de uma redoma de pseudosantidade e menosprezamos os que estão do lado de fora. Julgamos que este ou aquele é irrecuperável; sentenciamos esta ou aquela ao inferno; e assim vamos nos furtando ao dever de falar a todos do imensurável plano de salvação, sem fazer acepção de pessoas (Rm 2.11; Tg 2.1). Mas “quão formosos são os pés dos que anunciam as boas novas”! (Is 52.7) E quão formosos são os pés que estão sempre calçados com “a preparação do evangelho da paz”! (Ef 6.15)

À Jonas, o profeta resmungão, que se ressentia pela conversão dos ninivitas quando desejava que eles sofressem a condenação de seus pecados e fossem severamente punidos por Deus (Jn 3.10; 4.1), o Senhor lhe questiona:

“não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?” (Jn 4.11)

Jonas e os fariseus na época de Jesus estavam se comportando como o filho mais velho da parábola do filho pródigo: resmungando pelo banquete preparado pelo pai para recepcionar a volta do filho perdido ao invés de juntar-se ao pai e aos amigos na celebração do retorno! Quantas vezes nos comportamos assim, quando preferimos condenação e morte aos pecadores, ou quando ficamos sempre com aquele olhar desconfiado com um bêbado ou usuário de drogas que se converte ao Senhor num culto público. Deveríamos fazer festa ao invés de olhares atravessados!

  • Ganhar almas é um grande privilégio e dever!

Já dizia o renomado pregador inglês Charles Spurgeon, “Ganhar uma alma, livrando-a de descer ao abismo, é um feito mais glorioso do que ser premiado como Doctor Sufficientíssimus na arena da controvérsia teológica” [6]. Então, como escreveu o missionário pentecostal Orlando Boyer, “esforça-te para ganhar almas!”.

Obedeçamos às ordenanças da Palavra de Deus. Aos descrentes, nos está ordenado: “ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16.15); aos desviados, pesa sobre nós o dever: “Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade, e tornarem a despertar, desprendendo-se dos laços do diabo, em que à vontade dele estão presos” (2Tm 2.25,26).

E atentemos para as palavras de Tiago, irmão do Senhor Jesus: “Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados” (Tg 5.19,20).

III. Há alegria no céu quando o pecador se arrepende

Ambas as parábolas do bom pastor e da dracma perdida, e ainda a parábola do filho pródigo, terminam em clima festivo, onde o pastor, a dona de casa e o pai convidam amigos e/ou vizinhos para celebrarem o encontro do bem reencontrado. Jesus explica o que isso significa no reino de Deus:

“…assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento” (v. 7); “Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende (v. 19)

Certamente Deus condenará os que persistirem na prática do pecado e recusarem os apelos misericordiosos do Senhor para o arrependimento (“a ovelha forte e rebelde eu destruirei” – Ez 34-16), todavia, sua alegria está na redenção dos pecadores por meio do precioso sacrifício do Bom Pastor Jesus, recebido pela fé no coração do homem. Na morte do ímpio, Deus não tem prazer, ainda que ela seja justa; o prazer de Deus está em salvar pecadores e trazê-los de volta à sua presença! (Ez 33.11)

Enquanto os religiosos descrentes “murmuravam” pela aproximação de Jesus com os publicanos e pecadores, os céus rejubilavam a cada novo convertido que verdadeiramente recebia o evangelho em seu coração. Quando Zaquel recebeu Jesus em sua casa (Lc 19.9), houve festa no céu; quando a mulher pecadora regou os pés de Jesus com lágrimas na casa de Simão (Lc 7.50), os céus novamente festejaram!

Se a alegria nas parábolas foi do pastor (v. 6), da mulher (v. 9) e do pai (vv. 22-24), e se há uma representação da Trindade nestes três personagens, então, de fato, é o próprio Deus quem promove a festa de celebração no céu pela salvação dos perdidos. Estas são parábolas que nos permitem imaginar o sorriso de Deus!

Quantas festas mais poderíamos proporcionar “diante dos anjos de Deus” se fôssemos mais diligentes na evangelização dos perdidos e a busca misericordiosa pelos desviados!

Conclusão

Na casa de Zaquel Jesus definiu sua missão aqui na terra: “Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19.10). Enquanto esteve pessoalmente nesta terra, Jesus buscou incansavelmente os pecadores, muitas vezes com lágrimas chamando-os ao arrependimento. Hoje, ele deixou sob nossos cuidados tão importante missão: buscar as vidas preciosas por quem Jesus morreu. Estamos cumprindo esta missão, ou estamos falhando nela? Deus nos ajude!

____________
Referências

[1] Claiton Kunz. As parábolas de Jesus e seu ensino sobre o reino de Deus, AD Santos, p. 120
[2] Jacó Armínio. As obras de Armínio, vol. 3, CPAD, p. 425)
[3] William MacDonald. Comentário Bíblico Popular – Novo Testamento, Mundo Cristão, p. 205
[4] Orlando Boyer. Espada Cortante 2, CPAD, p. 133
[5] Claiton Kunz. op. cit., p. 123
[6] Charles Spurgeon. Lições aos meus alunos, PES, vol. 2

Presbítero da Assembleia de Deus em Campina Grande-PB. Coordenador de Escola Bíblica Dominical. Autor do livro A Mensagem da cruz: o amor que nos redimiu da ira.

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